domingo, 8 de novembro de 2009

Oh, ceús, o que a Riofilme fez de errado neste mundo para apanhar tanto?

De e-mail de Sílvio Tendler Silvio Tendler <http://br.mc577.mail.yahoo.com/mc/compose?to=caliban@caliban.com.br> de 8 de novembro, para a lista CINEMABRASIL:

Hoje a Riofilme começa a sair da vida para entrar ne História. Amanhã segunda-feira, 13, serão abertos os envelopes que darão inicio a seleção da corretora de valores que administrará o "Funcine"da Riofilme ( o maior cartório que nunca tinha acontecido antes na história desse país): Pega-se dinheiro público, repassa-de para uma corretora privada que recebrá uma alta taxa de administração e todas as garantias que não terá prejuizos, monta-se um comitê gestor sem discutir com as entidades dos que fazem cinema e zás,o governo municipal se livra de um abacaxi e nós apenas tomamos conhecimento por esse rápido obituário. De tanto tomar porrada, estamos anestesiados à dor.

Bem , se a campanha "das Diretas" levou milhöes às ruas, a "privatização da Vale" foram uns poucos mil e agora a protestar em defesa da Riofilme fomos uns poucos, cinco ou seis. Esta indiferença toda significa que a Riofilme não sentou raízes familiares entre nós. É como uma tia distante que vai embora e a gente pensa: "que descanse em paz".

Mas esta jovem, Tinha aparência de velha, como tudo que é público no Brasil de hoje, mas não passou dos 17, 18 anos. Era jovem e forte, estava em coma por conta do tratamento recebido ao longo desses anos e foi fundamental na preservação de nossa auto-estima nos tempos de vacas magras. Produziu e apoiou filmes importantes, deu alento. Durante um tempo, virou mesmo meca e alento para os cineastas paulistas que citavam como exemplo: "Rio tem..."E vinham cá buscar grana para produzir ou apoio para lançar seus filmes. Os ingratos, agora, não enviam nem telegrama de pesar. A vida é assim mesmo.

Falo de sua juventude, não para celebrar o passado mas para sinalizar o futuro. Daqui a quatro anos e por uns dois anos seguidos, o Rio será uma festa: Seremos uma das sedes da Copa do Mundo e daqui a seis, sede das olimpíadas. Nós artistas devemos entrar em campo nesta festa, não com nossos aplausos passivos mas com nossas obras que revelem, discutam, proponham o mundo no qual queremos viver.

Entreguemos o mercado aos mercadores. Nos ocupemos do cinema, não enquanto negócio, mas enquanto arte, enquanto expressão de um povo e de uma sociedade. Ë neste sentido que a Riofilme ressucitada ainda terá um papel como um rio firme que navega nas águas serenas das idéias e da criação artística e não num rio bravo do bom negócio rápido e do lucro fácil. O mundo pertence aos criafores e não aos predadores.

Bom domingo a todos

Silvio Tendler

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